Essa é a nossa segunda tentativa de fazer cume no Morro do Couto – Parque Nacional de Itatiaia. A primeira tentativa não foi bem sucedida devido ao mau tempo, o que gerou total falta de visibilidade.
Será que agora vai dar certo? Acompanhe o relato para saber!
Como chegar no Parque Nacional de Itatiaia
Terceira visita nossa ao Parque Nacional de Itatiaia, o parque mais antigo do Brasil. Localizado no meio da Serra da Mantiqueira, o acesso à parte alta se dá pela BR 354 (uma saída da Dutra), que liga Engenheiro Passos (RJ) a Itamonte (MG).
Nessa estrada há uma saída conhecida como Garganta do Registro, onde após cerca de 30min subindo por essa estradinha de terra se tem acesso ao Posto Marco Antônio Moura Botelho, conhecido como Posto Marcão.
Qual a melhor época para ir?
Durante os meses de outono/inverno, época ideal para a prática de montanhismo, o parque tem um alto índice de visitação. Como há limite de visitantes por dia, é interessante você se programar para chegar bem cedinho e garantir sua entrada. Bem cedinho mesmo, o horário de abertura do parque é as 7h, mas desde as 6h já começa a se formar uma fila imensa de veículos.
Dessa vez não precisamos nos preocupar em chegar cedo, pois fomos para acampar de sábado para domingo, sendo assim, precisávamos nos apresentar até as 14h no Posto Marcão.
Como faço se quiser acampar no Parque Nacional de Itatiaia?
Para poder acampar, pernoitar no Abrigo Rebouças ou fazer as travessias, você precisa preencher um formulário com no máximo um mês de antecedência à data pretendida. Após preenchido e enviado (Google Forms), você vai aguardar um e-mail de confirmação, após cerca de 3 dias, para saber se há vagas. Clique aqui para ser levado diretamente ao formulário do site do PNI.
Como foi nosso bate e volta para o Parque Nacional de Itatiaia?
Saímos de casa, em São Paulo, antes do sol raiar e fomos agraciados com um lindo nascer do sol!
E bora lá que tem chão até o Parque de Itatiaia!!! Cinco horas de estrada nos esperavam e pra dar um nível extra de conforto pra nossa viagem, nossa caneca térmica estava cheia de café fresquinho e também levamos cookies de aveia feitos no dia anterior.
Chegando na estradinha que dá acesso ao Posto Marcão, não dá para ignorar a paisagem maravilhosa que dá para avistar em alguns pontos. Da estrada já é lindo…imagina quando chegássemos no topo do Agulhas Negras!
Chegamos no Posto Marcão por volta das 11:40h e estava bem tranquilo como já imaginávamos, devido ao horário.
Preenchemos os papéis necessários e informamos que faríamos o Morro do Couto logo na sequência e o Agulhas Negras no dia seguinte com o guia Marco Aurélio.
Pagamos as taxas – total de R$90 para o casal, considerando dois dias dentro do parque e uma diária de camping – e seguimos para o estacionamento. Essas informações são de junho/2019.
Pensa numa missão difícil que foi achar uma vaga pra estacionar… Estava mega lotado! Também, o dia estava maravilhoso, com certeza o parque estaria bem cheio!
Rumo ao Morro do Couto
Enfim achamos uma vaguinha e seguimos para a trilha do Morro do Couto – quando tentamos fazer da última vez em que estávamos no parque, durante o verão, o solo estava encharcado e chovia, havia uma neblina muito densa encobrindo tudo, o que nos fez perceber que não valeria nem um pouco a pena continuar na trilha.
Mas dessa vez, o clima estava totalmente propício a fazermos o cume, céu azul limpinho e temperatura agradável, lá fomos nós!
A trilha começa bem suave, praticamente plana, logo se chega a um mirante com uma vista maravilhosa do parque, vale a pena tirar umas fotinhos e tomar um fôlego por ali.
Seguimos e a trilha já começa a apresentar alguns obstáculos antes de chegar numa parte que é só trepa-pedra. Não tem um grau de dificuldade muito alto, mas tem que fazer todos os movimentos com cuidado, principalmente porque a formação rochosa de lá é bastante áspera, então qualquer deslizadinha, renderá uma boa ralada…
A parte boa disso é que a aderência do solado da bota é altíssima! Mas tem que usar um calçado adequado para trilhas, na nossa frente havia uma menina fazendo com um tênis comum visivelmente desgastado e ela tinha muita dificuldade para caminhar, atrasando toda a fila que estava atrás dela. Em vários momentos nessa trilha, não há pontos de ultrapassagem.
E após 1:30h de subida, chegamos ao cume! Que vista maravilhosa que se tem de lá!
A visão da Serra Fina é digna de um camarote e foi a que mais aproveitamos! Nos sentamos de frente para essa formação maravilhosa e almoçamos nosso lanchinho de frango.
Dá pra ver o Agulhas Negras de uma ângulo bem bacana também!
Aproveitando o cume!
Ficamos no cume por cerca de 30 minutos, mas creio que só nos últimos dez que conseguimos “escutar” o silêncio maravilhoso que estávamos em busca… Tinha muita gente lá em cima, juro que o problema não era esse, mas sim porque havia muita gente gritando, falando alto pra caramba e pra ser bem sincera, estragando o momento para os demais ali presentes! :-/
A montanha é para todos, com toda a certeza, mas respeito ao próximo e ao local é imprescindível em qualquer situação. Se o cume de toda montanha é um local propício para contemplação da natureza e, assim como eu, talvez você também encare como um encontro consigo próprio, cabe a todos deixarem pra ficar na gritaria em outro lugar… só acho! #ProntoFalei
Tentamos gravar um time lapse para registrar a linda movimentação das nuvens vista dali, mas eu esqueci de dar uma olhada antes em como deveríamos programar a GoPro (quantos FPS para render alguns poucos segundos de vídeo)… o Cassio também não lembrou e resumindo – não rolou!
Rolou sim uma DR, pois, como sou eu a fotógrafa oficial do casal, comi bola em não ter visto isso. Dado que isso é verdade e já assumi, posso apenas prometer que farei o meu melhor na nossa próxima trilha – fiquem ligados! Rs
Uma pausa para o desabafo e um alerta!
Começamos a descer e não demorou para encontrarmos a turma de barulhentos pelo caminho. Há vários trechos bastante estreitos e a turminha indo mega devagar, estavam ali para colocar o papo em dia e não prestando muita atenção no caminho.
Juro que não quero ser a chata falando essas coisas, mas como estávamos atrás deles, não dava para não notar.
Por várias vezes, a menina que era praticamente a porta-voz do grupo, de taaaaaanto que falava, se preocupava tanto em conversar que não prestava atenção onde estava pisando.
Isso gerou algumas derrapadas e pisadas em falso que graças a Deus não ocasionaram em nenhum ferimento. Acidentes na montanha acontecem mesmo a gente se preservando, imagina se não prestarmos a atenção devida!
Na verdade, essa parte estou escrevendo apenas para dizer que temos que zelar muito pela nossa integridade na montanha, pois um resgate em áreas remotas é sempre difícil e sofrido.
Seguindo…
Em cerca de 1:15h estávamos de volta ao estacionamento, a descida é bem tranquila. Realmente é só tomar cuidado por onde pisa, pois há muitas pedras no caminho.
Fui até o Posto Marcão para devolver a braçadeira que usamos durante o trajeto ao Couto e descemos com o carro até a área do Rebouças. Ficamos sabendo que essa foi uma das últimas vezes que alguém pode ir com o carro até lá. Com a nova concessão, haverá veículos coletivos que descerão as pessoas até lá.
Conseguimos colocar a nossa gentileza em prática!
Como dentro do Parque as coisas são mais tranquilas, fizemos algo que nunca tivemos coragem – demos carona para 3 rapazes nessa descida de 3km até o Rebouças, pois eles iriam pernoitar no abrigo e nós na área de camping!
O papo foi bem legal e tornou nossa descida super divertida, ainda mais porque eles estavam tirando sarro da turma que descolou uma carona antes deles! Os outros estavam todos pendurados do lado de fora do carro, apoiados no estribo e bagageiro, enquanto eles ali no maior conforto, com o banco traseiro todo para eles! Kkkk
Chegando na área de camping Rebouças
Descemos nossas coisas e fomos procurar um lugar para acampar, pois com um fim de semana tão lindo, certeza que estaria cheio! Achamos um lugarzinho bem legal e começamos a tirar a barraca do saco e conversar que lembramos que era bem fácil montá-la, só não lembrávamos como era…rs
Naturalmente fomos nos lembrando e montando com tranquilidade, afinal, para quem havia montado a barraca pela primeira vez debaixo de chuva e vento, deveria ser bem tranquilo para armá-la com tempo seco e sem vento!
Ah, olha só como nossa localização estava privilegiada: Agulhas Negras de um lado, Morro do Couto de outro… Olha só nosso “quarto” prontinho e com uma vista mais que especial para o por do sol:
Fizemos um lanchinho de fim de tarde, uma xícara de capuccino e bisnaguinhas com Nutella, antes de assistirmos a um espetáculo incrível que nos faz cada vez mais entender que as melhores coisas da vida não são coisas e são de graça!
Contemplamos cada minuto do pôr do sol e descansamos antes de preparar o jantar, assim já fizemos o test-drive das acomodações: saco de dormir+ isolante térmico.
E começa o friozinho
Aproveitamos para nos manter aquecidos, pois junto com o sol, foi-se a temperatura agradável para ficar de camiseta, dando lugar a uma queda drástica no termômetro e à colocação de algumas camadas de roupa. Pelo menos deu para apreciar um céu estrelado bem lindo, antes que ficasse encoberto.
Quando deu 19h resolvemos já iniciar os preparos do jantar, mesmo sem tanta fome, pois mais tarde só iria baixar mais a temperatura, tornando mais difícil ficar do lado de fora da barraca.
Nosso prato era macarrão ao molho de linguiça, super gostoso e um hit dos acampamentos! Levei um sachê do molho de tomate da Heinz (achei um dos menos ácidos desses molhos já prontos), linguiça portuguesa (já frita), tempero desidratado e sal. Como só temos uma panela, primeiro fizemos o molho e deixamos reservado em um dos pratinhos que depois usaríamos para comer.
Ah, vale lembrar que quanto maior a altitude menor a temperatura de ebulição, porém como a água disponível lá é super gelada, ela demora bastante para iniciar a fervura. Isso aliado a pressa para comer logo e entrar na barraca pra não congelar, torna essa espera incrivelmente mais longa!
Após sei lá quantos minutos, mas com a sensação de uma eternidade, conseguimos colocar o macarrão para cozinhar e fomos monitorando o tempo para retirar na hora certa, erramos, mas tudo bem, comemos macarrão bem molinho e melequento com um delicioso molho! Rs
Zero grau às 20h! Pode isso produção?
Devoramos a comida, para podermos lavar logo a louça e entrarmos na barraca para nos aquecer, pois a essa altura, já escutamos alguém dizer que o termômetro marcava 0oC, isso porque devia ser umas 20h ainda.
Assim que deu já pulamos pra dentro do saco de dormir para ficarmos quentinhos, não dava pra ficar sentado de boa dentro da barraca, sendo assim não tinha mais o que fazer, então nos restou descansar até pegarmos no sono.
Até eu conseguir me aquecer, confesso que demorou. Eu estava vestindo uma calça que supostamente era quentinha, mas não pro frio que estava fazendo lá.
Mesmo meu saco de dormir tendo a temperatura de conforto de -7 oC, comecei a tremer de frio e precisei ir preenchendo o saco com roupas que estavam na mochila e ainda vesti um casaco por cima da camiseta de manga comprida.
Também precisei trocar de lugar com o Cassio, pois o meio da barraca é menos frio que encostado na lateral.
Finalmente consegui dormir. Como não havia vento nenhum, o único “som da natureza” que deu pra ouvir foi do ronco de um ser humano que estava ali pertinho… rs. Ah, também deu para ouvir o barulho do lobo,que graças a Deus parecia estar bem longe! Ufaaaaa
No dia seguinte conversando com os vizinhos da barraca ao lado, a menina me disse que esquentou água e colocou numa garrafinha pra manter os pés aquecidos… só quando ela me disse que eu me lembrei que já havia lido essa dica antes… pena que não lembrei… ☹
Damm Brito
• 4 anos agoEstou de pleno acordo que a montanha é lugar de contemplação,gostei muito da sua reportagem ,parabéns.
leticia.lucin
• 3 anos agoMuito obrigada pelo seu comentário, Damm! Boas trilhas =)